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Ódio nas Redes Sociais: quando a internet se tornou o campo da perversidade?

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Não é novidade que as redes sociais deram voz as pessoas. Muito se discute, se polemiza, se debate na internet. Mas é justamente esse excesso de liberdade, apoiado no anonimato e na proteção que oferece a máquina, que revelou em alguns um lado sombrio. Aos poucos, o ódio nas redes sociais se fortalece em comentários e julgamentos virtuais que mostram comportamentos quase sádicos.

Para entender um pouco desse fenômeno, conversamos com Breno Rosostolato, professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina (FASM). Segundo o especialista, estes sentimentos obscuros se afloram e se evidenciam na atualidade virtual. As pessoas passaram a ficar destrutivas, como sinal de suas faltas, perdas, vazios e empobrecimentos emocionais. A opinião não é pessoal, mas faz parte de um grupo, de um coletivo, que tende a uniformizar e aniquilar as singularidades.

O ódio cria unidade e agrupa as pessoas, pois é difícil amar, embora nos esforcemos. Odiar é prazeroso, mesmo que sádico. Somos diferentes, mas, se temos a quem odiar, nos tornamos irmãos.” – explica o professor. Em tempos onde opiniões não são toleradas e as pessoas dividem a internet entre “mocinhos e bandidos”, fica difícil conviver em harmonia. Os primeiros vão salvar o mundo de todos os males, enquanto os segundos merecem a danação eterna.

Se antes as redes sociais estavam divididas entre pessoas tristes e felizes, o cenário atual é bastante diferente.  Vivemos a era da dicotomia social. Ou seja, aqueles que estão “do lado certo da história” e todo o resto, que não passa de uma “massa de alienados que querem o mal de todos”. “De uma maneira geral, as redes sociais estão se tornado ambientes tristes e agressivos, no qual opiniões contrárias transformam a pessoa em opositor, inimigo. A rede tem fabricado ‘stalkers’ e moralistas da vida alheia” – afirma o especialista.

Expressar a própria opinião é quase um crime moral. Punido com retaliações severas no ambiente online e com todos os rótulos possíveis. Aquele que não pensa como eu é para onde direciona-se o ódio nas redes sociais. Para Breno: “O fato destes acontecimentos estarem aumentando – e eles sempre existiram – denunciam outro fenômeno. Um prazer ao ódio. Um prazer em senti-lo e propagá-lo.”

E ele continua: “Existem aqueles que amam amar e outros que amam odiar. Sentir o ódio alimenta e autoriza as pessoas à expulsá-la através da violência e isso para muitos é prazeroso. Incitar ao ódio torna o odioso como um líder e no controle de seguidores que compactuam do mesmo ódio. Vivemos tempos de ‘ódiolatria’”

.Para o professor há casos em que as críticas extrapolam. Como no caso dos pais que, em um bloco de carnaval, vestiram o filho adotivo negro do personagem Abu, de Alladin (entenda aqui). “Empatia é importante, não somente no ambiente virtual, como na vida. Palavras e colocações mais ásperas podem ser ameaçadoras. Intimidações, inclusive, tornaram-se comuns nas redes sociais. Não podemos tornar o convívio virtual nocivo e severo.” – declara.

Palavras ríspidas, bem como o linchamento virtual, podem causar sérios danos aos indivíduos que ocupam o “banco dos réus da internet”. “Invade-se a vida do outro com a finalidade de retalha-lo. Tudo isso é muito delicado e perigoso, pois, a sociedade está naturalizando conceitos e comportamentos cada vez mais violentos” – continua o professor.

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É importante lembrar que o ódio está fincado como uma raiz profunda da humanidade. Ele sempre existiu e se expressou de diferentes maneiras. É a incapacidade de compreender o diferente. Casos como a morte da ex-primeira dama Marisa Letícia. Ou ainda do filho do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin mostram como as pessoas perderam o senso de empatia.

“Os odiosos sempre existiram, mas a internet possibilitou que estes ódios sociais emergissem. O povo brasileiro, em especial, está longe de ser cordial. Se amamos de coração, sabemos odiar de coração, igualmente” – declara Rosostolato.

Mas como perceber que o debate, ou mesmo as relações virtuais, passam a beirar o nocivo? Segundo o professor, “Pessoas que não aceitam opiniões contrárias as dela, dificilmente, estão dispostas a uma boa discussão. Termos como: ‘esquerdopata’, ‘coxinha’, ‘vai pra Cuba’ já revelam que a conversa será muito difícil. Talvez você esteja diante de um hater“.  Um pessoa que não consegue estabelecer uma relação saudável e de manter um debate com respeito.

O psicólogo é categórico em afirmar que a falta de leis mais severas colaboram para esses comportamentos no ambiente virtual. Para manter-se longe dessa onda de debates, ele sugere evitar a exposição exagerada nas redes e tomar cuidado com os posicionamentos que assume. Tratar todos com respeito, entender diferenças e buscar desenvolver a empatia. Em certos casos, é melhor guardar a crítica para si, evitando discussões infundadas. “O problema não é debater, mas fazer isso de maneira respeitosa.” – finaliza.

Então que tal desenvolver a gentileza no ambiente virtual? Menos ódio e mais amor, por um mundo melhor!

Erisson Rosati é jornalista, especializado em moda e beleza. Já atuou em grandes veículos como Portal IG, TOP Magazine e Cabelos e Cia. É assessor de imprensa e professor de cursos livres da Universidade Belas Artes.

2 Comments

  1. Pingback: O ódio nas redes sociais – Breno Rosostolato

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