Cultura POP
Histeria: Jô Soares dirige comédia inteligente!
Rir é sempre o melhor remédio! A vida seria bem mais chata sem o humor. E é justamente isso que nos propõe a peça “Histeria”, dirigida por Jô Soares, e que está em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Usando do humor e de situações inusitadas, o texto fala de temas delicados da vida do pai da psicanálise, Freud.
Histeria é, antes de tudo, uma comédia delirante. Narra o encontro do pai da psicanálise, Sigmund Freud, com o mestre do surrealismo, Salvador Dalí. Escrita em 1933, pelo dramaturgo inglês Terry Johnson, a peça ganhou elogios em suas montagens Europeias. Foi exatamente em uma dessas apresentações que Jô Soares conheceu a obra e resolveu traduzir o texto e dirigir a versão brasileira. O que tornou o projeto possível foi o patrocínio da Total Lubrificantes!
Em 1938, Freud (Norival Rizzo) está com câncer e às portas da morte, quando recebe a visita do pintor surrealista Salvador Dalí (interpretado por Cassio Scarpin). Morando em Londres recentemente, fugindo da ocupação nazista, o psicanalista aceita atender o artista por pedido de um amigo.
Durante uma série de eventos alucinantes, Freud se vê questionado pela figura de seu amigo médico (papel de Milton Levy) e acaba se envolvendo em uma confusão com uma mulher jovem e atraente, vivida por Erica Montanheiro. Aliás, as situações provocadas pelo personagem de Erica são as que dão o tom da comédia.
O elenco, de forma geral, está bem afinado e tem o timing certo no palco para que os sutis e inteligentes diálogos consigam tirar risos da platéia. Ao mesmo tempo, o texto insere questionamentos e reflexões mais profundos sobre temas da psicologia e da própria sociedade da época.
A peça tem seu ápice depois dos primeiros 10 minutos de apresentação. E o ritmo dura por boa parte do tempo, perdendo um pouco de força ao final. Ainda assim, o embate entre arte, alucinações, psiquê humana e surrealismo garante uma montanha-russa de emoções do começo ao fim. Histeria ainda guarda o trunfo de abordar a evolução do século 20 e suas incríveis transformações.
E a era da revolução industrial, das drogas, da medicina, das artes e do sexo é que dá o ritmo a Histeria. Terry Johnson soube trabalhar todas essas influências com pitadas de humor essencial. É a comédia que permite ao público entrar nesse universo de maneira suave. E assim poder refletir sobre algumas das questões existenciais e de reflexão do passado que o texto traz. Como diria a própria psicanálise, o “chiste” (ou piada) é fundamental para entender e aceitar o mundo real. Ela é que dá leveza ao mundo (e pode lidar com a depressão).
Vale destacar a atuação de Scarpin, que faz um Dalí tão surreal quanto sua obra. E o brilhante Norival, que está bem à vontade no papel do grande pai da psicanálise. Histeria é uma obra divertida, mas que está longe de ser uma simples comédia. É um texto refinado, que consegue fisgar os mais curiosos e que buscam por um humor fora do convencional. É uma lufada de bons ares em um teatro de comédia que padece com um humor atual tão frágil.
Além de Histeria, Terry Johnson assina outros textos teatrais onde a alma humana e a ótica de uma determinada sociedade são colocadas em cheque. Dentre eles, “The Graduate” (A Primeira Noite de Um Homem), “Memory of Water” (A Memória das Águas) e “Hitchcock Blonde”. Além de trabalhos como diretor, que incluem “The Libertine (O Libertino)” e “One Flew Over The Cukoo’s Nest” (Um Estranho no Ninho).
Se você procura por humor de qualidade nos palcos e grandes atores, Histeria é para você!
Vai lá: Sexta às 21h30 | Sábado às 21h | Domingo 19h (Preços: Sexta R$ 60 | Sábado e Domingo R$ 80)
Fotos: divulgação
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